quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Reflexões Sobre o Emprego


Reflexões sobre o emprego
Por: Cristian Welsh Miguens
15/08/2018

Há muita gente apreensiva e gerando um clima de incerteza generalizado por causa da destruição de empregos. Há motivos para tanto alvoroço?
O assunto é especialmente sensível, pois se refere aos mecanismos de sobrevivência das famílias. Por esse mesmo motivo, faz parte do discurso político de demagogos e populistas. Vamos tentar então fugir do lugar comum.
Em primeiro lugar, não sei se repararam, mas não está sendo usada a palavra “redução” ou “falta” de empregos, mas o termo “destruição”. Embora o efeito seja similar, falta de emprego para as pessoas ter renda para sustentar a família, as pessoas estão acostumadas aos ciclos de aumento e redução de empregos acompanhando a evolução do desempenho da economia do país. Já a nova forma de se referir à falta de emprego, a “destruição” de empregos, remete os nossos cérebros a imaginar que uma vez que determinados empregos foram destruídos, eles não retornarão mais. Estamos mesmo diante desta situação?
Sem dúvida que um dos motivos do desemprego no Brasil é a baixa atividade econômica. Não passamos por uma recessão do tamanho da Brasileira (em torno de 10% de redução acumulada de 2013 para cá) sem pagar o preço em empregos. Se fossemos uma economia mais aberta e sem um “salário mínimo”, que distorce as relações de emprego, o desemprego causado pela queda de atividade econômica poderia ter um impacto bem menor, com o ajuste então acontecendo por meio da redução do valor médio do salário.
Também devemos levar em consideração que outra parcela do desemprego total é uma taxa estrutural, reflexo da rotatividade de empregos e do tempo que demora uma pessoa que perde o emprego para iniciar-se em outro. Essa taxa para o Brasil oscila entre 4 e 5%.
A realidade Brasileira indica também que a maior parte da taxa de desemprego, que gira em torno de 13%, se deve a estes dois motivos. Entretanto, diversos meios de comunicação e imprensa abordam o tema dando a entender que a “destruição” de empregos se deve ao aumento do uso da tecnologia, à robotização, ao uso da Inteligência Artificial (AI), enfim, à tecnologia aplicada que estaria “destruindo” empregos enquanto esta situação estaria demandando mão-de-obra mais qualificada, da qual não dispomos, projetando cenários de catástrofe para o futuro próximo.
A realidade Brasileira também indica que estamos longe deste cenário. O cenário que devemos projetar é de negócios com baixa produtividade e baixa competitividade. Isto sim. O grau de informatização e de automação, tanto na indústria como no setor de serviços, é tão baixo que o uso de tecnologia ainda não trará reflexos no desemprego. O baixo grau de concorrência da nossa economia, devido à proteção e intervenção do Estado, não propicia o uso intensivo da TI para melhorar a competitividade. Investimentos nesta área são vistos pelos empresários como “despesas” que devem ser evitadas em momento de crise e não como investimentos a serem realizados procurando melhorar a produtividade e a competitividade.
Mesmo assim, me chamou a atenção a divulgação de pesquisa recente feita pelo SPC Brasil e a CNDC, revelando que quase dois terços da população Brasileira está recorrendo a bicos para poder sobreviver. Soma-se a este tipo de pesquisa outras que apontam que o aumento de empreendimentos novos (startups) se explicam pela necessidade dos empreendedores de procurar novas fontes de renda em função das dificuldades de acharem novas oportunidades de emprego. Estes dados podem sim ser indicativos de uma mudança, já esperada, na natureza e na forma das relações de emprego.
A terceirização, o emprego temporário, e outras formas de relacionamento trabalhista, já contempladas na Reforma Trabalhista em vigor, são mecanismos sob os quais está desenvolvendo-se uma mecânica de contratação e execução de atividades comerciais promovida em grande medida pela utilização de smartfones, internet e APPs. A lógica de contratação em que um salário era pago em troca do tempo disponibilizado pelo empregado ao empregador, regulamentado em lei (44 horas semanais), dá lugar à contratação por resultados por tempo determinado (trabalho por demanda). Esta é uma mudança e tanto que, se e quando difundida de forma profunda e ampla na sociedade, trará enormes resultados e benefícios, com melhorias de produtividade acentuadas. A meritocracia está encontrando uma forma de fugir da tutela do Estado e, sem amarras, então produzir e ser remunerado de acordo com as próprias competências e de forma proporcional aos resultados obtidos.
É claro que as pessoas que desejam preservar o “status quo” (governo, sindicatos, empregados públicos e os medíocres de plantão) vão espernear e tergiversar com argumentos cuja única finalidade é a preservação de privilégios a determinadas “castas” contempladas pelos donos do poder.
Há ainda mais um fator a destacar com relação às opiniões referentes à destruição de empregos. Toda vez que se fala em aumento de produtividade surge a frase, ou parecida, que “ ... há um custo social decorrente, a perda de empregos”. Estes analistas “esquecem” que o aumento de atividade econômica promovida pelo aumento de produtividade e o desenvolvimento, emprego e comercialização da tecnologia aplicada em cada caso, criam novos empregos, no comércio, na indústria e nas áreas de prestação de serviços, que nunca são contabilizados nessas horas.
As pesquisas sobre o emprego e os diagnósticos decorrentes da análise de tais pesquisas não levam em consideração ainda estes fenômenos, portanto, não sabemos até que ponto este novo “ambiente trabalhista” esteja alastrando-se no mercado. Aos estrategistas, tanto aqueles ligados ao poder público quanto aqueles que decidem os rumos dos negócios no setor privado, cabe agora se debruçar em dados disponíveis para levar ou não em consideração esta nova hipótese, sob o risco de errarem calamitosamente as suas projeções baseadas em premissas relacionadas com o emprego.

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Sócio Diretor da IRON Consultoria