Reflexões sobre o emprego
Por: Cristian Welsh Miguens
15/08/2018
Há muita gente apreensiva e gerando um clima de incerteza
generalizado por causa da destruição de empregos. Há motivos para tanto
alvoroço?
O assunto é especialmente sensível, pois se refere aos
mecanismos de sobrevivência das famílias. Por esse mesmo motivo, faz parte do
discurso político de demagogos e populistas. Vamos tentar então fugir do lugar
comum.
Em primeiro lugar, não sei se repararam, mas não está sendo
usada a palavra “redução” ou “falta” de empregos, mas o termo “destruição”.
Embora o efeito seja similar, falta de emprego para as pessoas ter renda para
sustentar a família, as pessoas estão acostumadas aos ciclos de aumento e
redução de empregos acompanhando a evolução do desempenho da economia do país.
Já a nova forma de se referir à falta de emprego, a “destruição” de empregos,
remete os nossos cérebros a imaginar que uma vez que determinados empregos
foram destruídos, eles não retornarão mais. Estamos mesmo diante desta situação?
Sem dúvida que um dos motivos do desemprego no Brasil é a
baixa atividade econômica. Não passamos por uma recessão do tamanho da
Brasileira (em torno de 10% de redução acumulada de 2013 para cá) sem pagar o
preço em empregos. Se fossemos uma economia mais aberta e sem um “salário
mínimo”, que distorce as relações de emprego, o desemprego causado pela queda
de atividade econômica poderia ter um impacto bem menor, com o ajuste então
acontecendo por meio da redução do valor médio do salário.
Também devemos levar em consideração que outra parcela do
desemprego total é uma taxa estrutural, reflexo da rotatividade de empregos e
do tempo que demora uma pessoa que perde o emprego para iniciar-se em outro.
Essa taxa para o Brasil oscila entre 4 e 5%.
A realidade Brasileira indica também que a maior parte da
taxa de desemprego, que gira em torno de 13%, se deve a estes dois motivos.
Entretanto, diversos meios de comunicação e imprensa abordam o tema dando a
entender que a “destruição” de empregos se deve ao aumento do uso da
tecnologia, à robotização, ao uso da Inteligência Artificial (AI), enfim, à
tecnologia aplicada que estaria “destruindo” empregos enquanto esta situação
estaria demandando mão-de-obra mais qualificada, da qual não dispomos,
projetando cenários de catástrofe para o futuro próximo.
A realidade Brasileira também indica que estamos longe deste
cenário. O cenário que devemos projetar é de negócios com baixa produtividade e
baixa competitividade. Isto sim. O grau de informatização e de automação, tanto
na indústria como no setor de serviços, é tão baixo que o uso de tecnologia
ainda não trará reflexos no desemprego. O baixo grau de concorrência da nossa
economia, devido à proteção e intervenção do Estado, não propicia o uso
intensivo da TI para melhorar a competitividade. Investimentos nesta área são
vistos pelos empresários como “despesas” que devem ser evitadas em momento de
crise e não como investimentos a serem realizados procurando melhorar a
produtividade e a competitividade.
Mesmo assim, me chamou a atenção a divulgação de pesquisa
recente feita pelo SPC Brasil e a CNDC, revelando que quase dois terços da
população Brasileira está recorrendo a bicos para poder sobreviver. Soma-se a
este tipo de pesquisa outras que apontam que o aumento de empreendimentos novos
(startups) se explicam pela necessidade dos empreendedores de procurar novas
fontes de renda em função das dificuldades de acharem novas oportunidades de
emprego. Estes dados podem sim ser indicativos de uma mudança, já esperada, na
natureza e na forma das relações de emprego.
A terceirização, o emprego temporário, e outras formas de
relacionamento trabalhista, já contempladas na Reforma Trabalhista em vigor,
são mecanismos sob os quais está desenvolvendo-se uma mecânica de contratação e
execução de atividades comerciais promovida em grande medida pela utilização de
smartfones, internet e APPs. A lógica de contratação em que um salário era pago
em troca do tempo disponibilizado pelo empregado ao empregador, regulamentado
em lei (44 horas semanais), dá lugar à contratação por resultados por tempo
determinado (trabalho por demanda). Esta é uma mudança e tanto que, se e quando
difundida de forma profunda e ampla na sociedade, trará enormes resultados e
benefícios, com melhorias de produtividade acentuadas. A meritocracia está
encontrando uma forma de fugir da tutela do Estado e, sem amarras, então
produzir e ser remunerado de acordo com as próprias competências e de forma
proporcional aos resultados obtidos.
É claro que as pessoas que desejam preservar o “status quo”
(governo, sindicatos, empregados públicos e os medíocres de plantão) vão
espernear e tergiversar com argumentos cuja única finalidade é a preservação de
privilégios a determinadas “castas” contempladas pelos donos do poder.
Há ainda mais um fator a destacar com relação às opiniões
referentes à destruição de empregos. Toda vez que se fala em aumento de
produtividade surge a frase, ou parecida, que “ ... há um custo social
decorrente, a perda de empregos”. Estes analistas “esquecem” que o aumento de
atividade econômica promovida pelo aumento de produtividade e o
desenvolvimento, emprego e comercialização da tecnologia aplicada em cada caso,
criam novos empregos, no comércio, na indústria e nas áreas de prestação de
serviços, que nunca são contabilizados nessas horas.
As pesquisas sobre o emprego e os diagnósticos decorrentes
da análise de tais pesquisas não levam em consideração ainda estes fenômenos,
portanto, não sabemos até que ponto este novo “ambiente trabalhista” esteja
alastrando-se no mercado. Aos estrategistas, tanto aqueles ligados ao poder
público quanto aqueles que decidem os rumos dos negócios no setor privado, cabe
agora se debruçar em dados disponíveis para levar ou não em consideração esta
nova hipótese, sob o risco de errarem calamitosamente as suas projeções baseadas
em premissas relacionadas com o emprego.
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