Reflexões
sobre a Indústria 4.0
23 de julho
de 2018
Por Cristian
Welsh Miguens
O termo indústria 4.0 teve origem na
Feira de Hannover, Alemanha, em 2011. Trata-se de uma lógica de produção que
engloba inovações nos campos da automação, controle e tecnologia da informação
a serem aplicadas de modo integrado aos processos de manufatura.
Aprofundando
um pouco mais a questão da tecnologia que embaça este conceito, as tecnologias
que alteram fundamentalmente a forma de produzir, de fazer negócios e de
consumir são a velha e conhecida automação industrial, a mobilidade, fornecida
pelo acesso à internet pelos dispositivos móveis (smartphones), o M2M (comunicação
machine to machine – a capacidade de máquinas e equipamentos de “conversar”
entre si sem a intervenção humana) e a Inteligência Artificial. Há mais uma
tecnologia que ainda não se incorporou maciçamente à Indústria 4.0, mas já se
mostra relevante em algumas indústrias de forma pontual: a impressão 3D.
A mudança
gera medo e preocupações, muitas vezes justificadas. Entretanto este medo pode levar
a uma supervalorização das avaliações sobre os impactos negativos no
ordenamento social. Neste momento, a maior preocupação pública, se levarmos em
consideração os artigos e publicações que proliferam sobre esta questão, são
dois: a destruição de empregos e a capacitação das pessoas para desenvolver as
novas competências requeridas para lidar com as novas tecnologias. Nada muito
diferente do que aconteceu no início da Revolução Industrial.
A Indústria
4.0 é benvinda. O uso e o aproveitamento ao máximo das novas tecnologias
permite gerar riqueza, na forma de melhoria da produtividade, ao consumir menos
recursos de mão-de-obra, conseguir produzir mais rápido e com menos
desperdícios de materiais e de tempo. Como toda inovação deste tipo gerará
inicialmente desemprego. Se for permitido às forças de mercado agir livremente,
em pouco tempo este aumento de produtividade gerará nova demanda que permitirá
que o desemprego diminua rapidamente.
A maior fonte
de melhoria de produtividade, entretanto não se encontra nesta “redução de
custo” da mão-de-obra envolvida na produção de bens, mas na liberação de
capacidade pensante para desenvolver e acrescer a oferta de novos e melhores
serviços, explorando as oportunidades fornecidas pelo acesso a estas novas
tecnologias. Este fenômeno já foi vivenciado em tempos recentes por ocasião da
automação de escritórios (décadas de 70 e 80), pelo processamento distribuído e
as redes de informação gerando a proliferação de programas de gestão integrada
nas empresas (ERP, CRM, WMS, etc.) (no fim dos anos 80 e nos anos 90) e a
internet com o desenvolvimento e o impacto das mídias sociais.
Não é por
acaso então que entre 70 e 75% do PIB mundial hoje em dia se concentra no setor
de serviços. A primordial fonte de geração de riqueza na atualidade deixou de
ser a produção de bens, mas a produção de serviços por meio do uso do
conhecimento acumulado e compartilhado promovido pelas novas tecnologias de
informação e comunicação.
Também é
natural que a tecnologia representada pela Indústria 4.0 tenha seus impactos
mais relevantes naqueles países em que a “pirâmide demográfica” tem sofrido
alterações profundas, com uma redução de população geral e mais ainda com uma
redução da população economicamente ativa. Houve nestas sociedades uma
necessidade de substituir o trabalho humano pelo trabalho das máquinas. As
oportunidades para este desenvolvimento surgiram naturalmente. Não é por acaso
também que são estas sociedades as que geram oportunidades para imigrantes
dispostos a, inicialmente, executar as atividades e tarefas que requerem menos
qualificações e que gerarão, uma ou duas gerações depois, novos cidadãos aptos
e qualificados, promovendo a devida ascensão social.
O Brasil não
corre o risco inerente à implantação desta lógica de produção, pois nem a
infraestrutura necessária para o seu funcionamento tem. Alguns exemplos:
baixíssima velocidade das redes de banda larga; impossibilidade de instalação
de novas antenas e ERBs para atender o aumento do fluxo de dados, devido a
questões regulatórias e ambientais; impostos escorchantes que inviabilizam os
investimentos; ação sindical que trava a substituição de mão-de-obra por
máquinas; etc.
Estamos então
condenados à desindustrialização e a forçar a população a financiar um custo
elevadíssimo para ter acesso aos bens que gostaria de ter, o que significa que
a distância que nos separa das sociedades mais desenvolvidas não só não será
reduzida, mas se alargará.
Isto não é
uma declaração pessimista. Isto é a constatação de que a nossa sociedade ainda
não está disposta a fazer o que precisa para virar a mesa e iniciar o seu
crescimento e progresso sustentável. Vivemos presos a conceitos e ideologias
ultrapassadas que, em teoria “defendem a dignidade humana”, mas que tem como
consequência e efeito a perda da “dignidade humana”. Ao invés de valorizar o
ser humano e fazer das diferenças um estímulo para o progresso geral,
menosprezamos a capacidade dos indivíduos e então, sob o argumento de que não
serão capazes de defender-se, os submetemos à tutela do Estado. O resultado é a
nossa realidade. Se for isto o que você quer, então vamos continuar a dar murro
em ponta de faca e procurar novos culpados para a nossa própria incompetência.
E
para aqueles que vislumbram apenas cenários catastrofistas decorrentes do
“império das máquinas” tornando as pessoas em uma espécie de “escravos” das
máquinas, o que está acontecendo é que as pessoas, seus cérebros, seus
conhecimentos são cada vez mais importantes no desenvolvimento de soluções que
promovem o progresso. Ao invés de o ser humano perder relevância na construção
do progresso vejo exatamente o contrário: as pessoas e os indivíduos, cada
indivíduo, pode e faz cada vez mais a diferença.
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