sexta-feira, 27 de julho de 2018

Reflexões sobre a Indústria 4.0

Reflexões sobre a Indústria 4.0
23 de julho de 2018
Por Cristian Welsh Miguens

O termo indústria 4.0 teve origem na Feira de Hannover, Alemanha, em 2011. Trata-se de uma lógica de produção que engloba inovações nos campos da automação, controle e tecnologia da informação a serem aplicadas de modo integrado aos processos de manufatura.
Aprofundando um pouco mais a questão da tecnologia que embaça este conceito, as tecnologias que alteram fundamentalmente a forma de produzir, de fazer negócios e de consumir são a velha e conhecida automação industrial, a mobilidade, fornecida pelo acesso à internet pelos dispositivos móveis (smartphones), o M2M (comunicação machine to machine – a capacidade de máquinas e equipamentos de “conversar” entre si sem a intervenção humana) e a Inteligência Artificial. Há mais uma tecnologia que ainda não se incorporou maciçamente à Indústria 4.0, mas já se mostra relevante em algumas indústrias de forma pontual: a impressão 3D.
A mudança gera medo e preocupações, muitas vezes justificadas. Entretanto este medo pode levar a uma supervalorização das avaliações sobre os impactos negativos no ordenamento social. Neste momento, a maior preocupação pública, se levarmos em consideração os artigos e publicações que proliferam sobre esta questão, são dois: a destruição de empregos e a capacitação das pessoas para desenvolver as novas competências requeridas para lidar com as novas tecnologias. Nada muito diferente do que aconteceu no início da Revolução Industrial.
A Indústria 4.0 é benvinda. O uso e o aproveitamento ao máximo das novas tecnologias permite gerar riqueza, na forma de melhoria da produtividade, ao consumir menos recursos de mão-de-obra, conseguir produzir mais rápido e com menos desperdícios de materiais e de tempo. Como toda inovação deste tipo gerará inicialmente desemprego. Se for permitido às forças de mercado agir livremente, em pouco tempo este aumento de produtividade gerará nova demanda que permitirá que o desemprego diminua rapidamente.
A maior fonte de melhoria de produtividade, entretanto não se encontra nesta “redução de custo” da mão-de-obra envolvida na produção de bens, mas na liberação de capacidade pensante para desenvolver e acrescer a oferta de novos e melhores serviços, explorando as oportunidades fornecidas pelo acesso a estas novas tecnologias. Este fenômeno já foi vivenciado em tempos recentes por ocasião da automação de escritórios (décadas de 70 e 80), pelo processamento distribuído e as redes de informação gerando a proliferação de programas de gestão integrada nas empresas (ERP, CRM, WMS, etc.) (no fim dos anos 80 e nos anos 90) e a internet com o desenvolvimento e o impacto das mídias sociais.
Não é por acaso então que entre 70 e 75% do PIB mundial hoje em dia se concentra no setor de serviços. A primordial fonte de geração de riqueza na atualidade deixou de ser a produção de bens, mas a produção de serviços por meio do uso do conhecimento acumulado e compartilhado promovido pelas novas tecnologias de informação e comunicação.
Também é natural que a tecnologia representada pela Indústria 4.0 tenha seus impactos mais relevantes naqueles países em que a “pirâmide demográfica” tem sofrido alterações profundas, com uma redução de população geral e mais ainda com uma redução da população economicamente ativa. Houve nestas sociedades uma necessidade de substituir o trabalho humano pelo trabalho das máquinas. As oportunidades para este desenvolvimento surgiram naturalmente. Não é por acaso também que são estas sociedades as que geram oportunidades para imigrantes dispostos a, inicialmente, executar as atividades e tarefas que requerem menos qualificações e que gerarão, uma ou duas gerações depois, novos cidadãos aptos e qualificados, promovendo a devida ascensão social.
O Brasil não corre o risco inerente à implantação desta lógica de produção, pois nem a infraestrutura necessária para o seu funcionamento tem. Alguns exemplos: baixíssima velocidade das redes de banda larga; impossibilidade de instalação de novas antenas e ERBs para atender o aumento do fluxo de dados, devido a questões regulatórias e ambientais; impostos escorchantes que inviabilizam os investimentos; ação sindical que trava a substituição de mão-de-obra por máquinas; etc.
Estamos então condenados à desindustrialização e a forçar a população a financiar um custo elevadíssimo para ter acesso aos bens que gostaria de ter, o que significa que a distância que nos separa das sociedades mais desenvolvidas não só não será reduzida, mas se alargará.
Isto não é uma declaração pessimista. Isto é a constatação de que a nossa sociedade ainda não está disposta a fazer o que precisa para virar a mesa e iniciar o seu crescimento e progresso sustentável. Vivemos presos a conceitos e ideologias ultrapassadas que, em teoria “defendem a dignidade humana”, mas que tem como consequência e efeito a perda da “dignidade humana”. Ao invés de valorizar o ser humano e fazer das diferenças um estímulo para o progresso geral, menosprezamos a capacidade dos indivíduos e então, sob o argumento de que não serão capazes de defender-se, os submetemos à tutela do Estado. O resultado é a nossa realidade. Se for isto o que você quer, então vamos continuar a dar murro em ponta de faca e procurar novos culpados para a nossa própria incompetência.
E para aqueles que vislumbram apenas cenários catastrofistas decorrentes do “império das máquinas” tornando as pessoas em uma espécie de “escravos” das máquinas, o que está acontecendo é que as pessoas, seus cérebros, seus conhecimentos são cada vez mais importantes no desenvolvimento de soluções que promovem o progresso. Ao invés de o ser humano perder relevância na construção do progresso vejo exatamente o contrário: as pessoas e os indivíduos, cada indivíduo, pode e faz cada vez mais a diferença.

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Sócio Diretor da IRON Consultoria