domingo, 26 de julho de 2020

Democracia, Racismo e Inovação

Democracia, racismo e inovação
Por Cristian Welsh Miguens, CMC

Read the english version of this article in https://www.cmc-global.org/content/democracy-racism-and-innovation

Tempos estranhos que estamos vivendo hoje em dia! 
Ter que lidar com uma pandemia e seus efeitos prejudiciais parece não ser suficiente, agora temos que nos acostumar também à agitação social.

O fato de comícios recentes e manifestações públicas se transformarem facilmente em uma turba não é o motivo que mais chamou a minha atenção pois isto pode ser esperado quando houver um verdadeiro descontentamento generalizado.  Também não foram seus supostos propósitos e ideais visto que a maioria de nós os apoiaria. O problema são as suas propostas, porque não tratam do problema, simplesmente apontam para alguém para ser culpado e depois punido e / ou exigem privilégios para si mesmos, negando-os àqueles aos quais se opõem no momento.

Aqueles que afirmam defender a democracia e seus princípios propõem medidas antidemocráticas, principalmente reduzindo as liberdades. Aqueles que afirmam estar combatendo o racismo, a intolerância e a discriminação, simplesmente propõem que os privilégios que caracterizam tais situações mudem de mãos, sem entender que estão tornando-se tão racistas, intolerantes e discriminatórios quanto aqueles aos quais se opõem, mas com sinal oposto.

Poderíamos discutir as consequências de tal comportamento sob um ponto de vista sociológico, psicológico ou ideológico. Este não é o lugar para fazê-lo, embora considero que deveria haver mais conteúdo público sendo produzido sobre esses assuntos. Minha proposta é analisar esse fenômeno à luz da gestão de negócios e da promoção de melhores práticas em gestão de negócios e nos ambientes de influência destes, melhorando a geração de valor, a melhoria da produtividade, o desenvolvimento social e econômico, em suma, promovendo o progresso.

Usando o livro de Andrés Oppenheimer “Innovate or Die! : How to Reinvent Yourself and Thrive in the INNOVATION Age” (edição em inglês) ou “Como se reinventar e prosperar na era da inovação” e sua conclusão como referência, ele afirma que, embora a inovação seja uma questão-chave para o desenvolvimento e aprimoramento social futuros, ela está intimamente ligada e é produzida principalmente em ambientes que de alguma forma apoiam e estimulam a diversidade.

Para começar, a criação de ambientes que estimulam a diversidade é o oposto de promover uma mudança de privilégios de um lado para o outro. Tem a ver com a eliminação de privilégios e com ações e controles que previnam a reinstalação dos mesmos, não apenas através de regulamentos, leis, projetos de lei ou qualquer outro instrumento, mas através de ações e exemplos reais, especialmente daqueles “influenciadores” (em linguagem de gerenciamento, líderes) que são valorizados, admirados e seguidos .

A segunda questão a ser levada em consideração é o que Moisés Naím, autor e editor de artigos venezuelano, escreveu em seu livro “The End of Power: From Boardrooms to Battlefields and Churches to States, Why Being In Charge Isn't What It Used to Be”  ou “ O Fim do Poder: desde os Conselhos de Administração até o chão de fábrica e desde as igrejas até os Estados, por que estar no comando não é o que costumava ser ”, em 2013. O poder e a forma em que ele é usado são essenciais ao considerar o processo de tomada de decisão que leva a uma ação proativa. O que Naím tenta mostrar é que, embora pessoas e instituições poderosas, ou pelo menos aquelas amplamente aceitas como tendo esse poder, continuem tendo muito poder, a internet e as mídias sociais estão causando uma redistribuição de poder, reduzindo lenta mas sistematicamente o poder real mantido nas mãos daqueles que ainda percebemos como poderosos. Isso também é verdade dentro das empresas.

A terceira e última questão que gostaria de considerar neste artigo é o que é que empresários e consultores devem fazer para promover a inovação e o progresso nas organizações. À luz do que escrevi acima, deveria ser encontrar meios de criar ambientes nos quais a diversidade desempenha um papel principal. Apoiar esses ambientes e seu desenvolvimento é uma tarefa extremamente difícil. 

Embora a digitalização, uma agenda presente nas organizações há pelo menos cinco anos, já estivesse em andamento, descentralizando a tomada de decisões, aproximando clientes, outras partes interessadas e organizações, nenhuma das soluções propostas aborda especificamente a necessidade de criar um ambiente de diversidade dentro delas. 

Algumas pessoas podem dizer que é tarde demais, que criar esses ambientes não apenas não é suficiente, mas que também aumentará a quantidade de conflitos e a agitação social. Eles argumentarão apontando para o fato de que é inútil que as pessoas se envolvam em discussões simplesmente porque as pessoas não têm a mente o suficientemente aberta como para poder mudar de ideia. Eles também apontam para o fato de que hoje em dia as pessoas se reúnem apenas com pessoas que pensam igual a elas mesmas e que esse comportamento criou uma polarização real na sociedade. Eu ainda acredito que esses fatos não são definitivos.

Para criar ambientes que abracem a diversidade, onde a discussão e os argumentos contrastantes seriam a regra, é necessária uma mudança nas atitudes das pessoas. Não apenas o respeito à opinião um do outro deve ser estimulado, ele também deve ser protegido; educar as pessoas a entenderem que a opinião não é apenas o que cada um gosta, mas que deve basear-se em conhecimento e pesquisa; discussões consomem tempo, então o tempo gasto em discussões deve ser tolerado; um debate tem regras - as pessoas devem ser educadas sobre essas regras, nunca permitindo que uma discussão se desvie para ataques pessoais; surgirão divergências - os líderes da organização devem estabelecer regras para lidar com tais divergências; os líderes perderão poder - eles devem se perguntar se estão prontos para ceder esse poder; por último mas não menos importante, chegar a um consenso não é o objetivo - fazer uma maioria dentro de certa quantidade de pessoas não significa que eles estarão sempre certos, então, quais serão os instrumentos e regras a ser usados para orientar as discussões e a tomada de decisão final?

Argumentar constantemente também não é o jeito certo para se lidar com questões e tarefas específicas. Isso significa que, em algum momento durante uma discussão, alguém poderá intervir e fazer com que a equipe aceite uma decisão final e comece a trabalhar no problema. Essa cultura não será alcançada imediatamente. É um processo de desenvolvimento e construção de confiança dentro da equipe. 

Outra questão a ser abordada é como a melhoria será medida? Deve ser medido de alguma forma.

Em um mundo complexo, a inovação fará a diferença. A inovação, para acontecer, precisa de ambientes que abracem a diversidade, com regras para disciplinar as interações e o engajamento das pessoas. A hierarquia e a autoridade como instrumento exclusivo de tomada de decisão não são mais suficientemente eficazes por si só. Ainda não temos um acordo geral sobre um novo modelo para substituí-lo, o que significa que será necessário criar novos modelos. A mudança hoje em dia tornou-se uma necessidade.

Os consultores devem engajar-se nesse esforço. Os consultores têm chances de experimentar novas soluções. Os consultores têm oportunidades e habilidades específicas para fazer a diferença e transformar as organizações para, depois, transformar a sociedade. Espero que possamos vivenciar esse desafio.

 

https://www.linkedin.com/pulse/democracia-racismo-e-inova%25C3%25A7%25C3%25A3o-cristian-welsh-miguens

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Sócio Diretor da IRON Consultoria