Um
pouco sobre política e o voto
Por Cristian
Welsh Miguens – 24 de agosto de 2018
Há
diversas formas de interpretar o que seja “a política”.
Tem-se, por
exemplo, “a política de qualidade da empresa”. Neste caso, política significa
uma série de regras e orientações que tem por objetivo facilitar o trabalho de
todos os funcionários, especialmente quando eles devem tomar decisões, pois
eles sabem que tais decisões devem seguir as regras e orientações da tal
“política de qualidade”. Chamo a atenção para o termo decisão. Pode-se inferir
que se trata de “grandes decisões”. Neste caso estamos falando também de
pequenas decisões, do tipo “como comprimento um cliente que acabou de entrar na
loja?” ou “como embrulho uma mercadoria que um cliente acabou de comprar?”.
Todas as nossas ações no trabalho envolvem decisões constantes e estas são
orientadas pelas tais “políticas”
O termo
política também é usado no sentido de que “nós devemos ser políticos ao falar
com ... ”. Neste caso, política significa ser cuidadoso na escolha de palavras
e no que é que eu vou dizer a determinadas pessoas. Aqui há muita confusão na
interpretação. Toda vez que se conversa com alguém ou com um grupo de pessoas, se
deseja transmitir uma mensagem. Tomar cuidado na escolha das palavras para ser
corretamente compreendido evitando ofender ou de alguma forma dar margem a
interpretações diferentes daquela que de fato se deseja transmitir é totalmente
diferente de mentir ou enganar para obter um determinado resultado. Isto último
é a deturpação da política. Lamentavelmente esta última forma de interpretar
“nós devemos ser políticos ao falar com ..... ”
é a interpretação que mais se percebe empregada pelas pessoas.
Já “a
política” é o ambiente e as relações que surgem nesse ambiente, que envolvem os
representantes que nos governam. Em geral, nas democracias, estamos falando de
pessoas dos poderes Executivo (de executar, fazer as coisas acontecer) e
Legislativo (legislar, criar leis e regras que orientem o comportamento das
pessoas em sociedade), ou seja, pessoas eleitas por meio do voto com o objetivo
de agirem em representação das pessoas (o povo). Tais pessoas são chamadas de
políticos.
Os políticos,
por atuar em representação do povo, deveriam estar dispostos a sempre agir
conforme alguns critérios básicos:
a)
Como
as suas ações geram normas e “políticas” que impactam e interferem na ação e
nas decisões que as pessoas tomam individualmente, as soluções desenvolvidas
pelos políticos deveriam interferir o mínimo possível na vida das pessoas.
Afinal de contas, ninguém gosta que outros tomem decisões por eles ou lhes
sejam impostas restrições ao exercício da própria liberdade. Invadir a ceara da
decisão individual o mínimo possível deveria ser preocupação permanente dos
políticos;
b)
Deveriam
sempre desenvolver soluções “gerais”, sem privilegiar ninguém em particular;
c)
Nunca
devem por os próprios interesses pessoais à frente dos interesses dos seus representados;
d)
O
trabalho exige negociação permanente. Negociar significa reconhecer que nem
todos concordam comigo, que nem todos tem o mesmo objetivo e que, portanto,
devo estar preparado a ceder algo para poder chegar a um acordo. O respeito
mútuo é indispensável.
Em uma
democracia não há soluções possíveis sem política e sem políticos. Por mais
desacreditados que os nossos políticos estejam, deve-se reconhecer que, se eles
não atendem às nossas expectativas, a culpa é nossa em primeiro lugar e somente
depois é deles. Afinal de contas nós os escolhemos.
O mais
inacreditável de toda esta história é que distorcemos em nossas mentes o que o
político deveria ser. Exige-se dele que “nos beneficie” e a partir disso
pretendemos que ele consiga alguns “privilégios” para nós.
Como é que um
político deveria raciocinar ao legislar ou ao administrar algum órgão do
executivo? Este é o tema central deste artigo na medida em que sugere um
mecanismo de avaliar o discurso dos diversos políticos em épocas de eleição.
Qualquer
coisa que exija que seja desenvolvida uma solução, chamaremos daqui em diante,
de “problema”. Então, a primeira coisa a ser feita é definir corretamente o
problema. A maior dificuldade aqui é não confundir “sintomas” com a verdadeira
causa. Um problema se manifesta gerando sintomas. Resolver apenas o sintoma nem
sempre resolve o problema. Um problema
mal definido necessariamente gerará soluções erradas e consequentemente
desperdício de recursos.
Com o
problema bem definido, deve-se então empenhar esforços para fazer um
diagnóstico. Um diagnóstico é o resultado de uma pesquisa e a respectiva
análise das possíveis causas do problema. Fazer um bom diagnóstico requer ter
conhecimentos e competências específicas com a questão que se deseja
diagnosticar. Novamente, fazer um
diagnóstico errado gerará soluções erradas e consequentemente desperdício de
recursos.
Com o
diagnóstico em mãos deve-se começar a procurar a solução do problema. Nem
sempre será possível propor a solução ideal, pois esta pode não ser a melhor
solução para as condições particulares do problema. Pode faltar dinheiro,
domínio da tecnologia, não ter a disposição pessoas devidamente preparadas ou então
diversos outros motivos que limitem o tipo de solução a ser adotada. Uma solução equivocada gerará soluções
erradas e consequentemente desperdício de recursos.
Com a solução
escolhida em mãos só está resolvido “o que” deve ser feito. Falta definir
“como” será aplicada a solução escolhida. O “como“ envolve planejar. Quais
serão as etapas, quem fará cada etapa, quantas pessoas serão necessárias para
executar cada etapa, qual a qualificação dessas pessoas, como se fará a
comunicação do que deve ser feito, que outros recursos serão necessários em
cada etapa, quanto custará e assim por diante. Também se deve definir uma meta
e uma ou várias formas de medir se a execução da solução está acontecendo de
acordo com o planejado e se a meta está sendo atingida. Uma solução com um mal planejamento gerará soluções erradas e
consequentemente desperdício de recursos.
Agora que já
se possui “o que” e “como”, deve-se executar. A execução envolve controlar se a
solução escolhida está sendo executada conforme planejado e se os resultados
que se esperam em cada etapa da implantação de fato estão acontecendo. A
avaliação dos resultados exige que se tomem decisões e correções de rumo (ações
corretivas) e para tanto deve ter pessoas qualificadas e com a autoridade
suficiente para tomar essas decisões rapidamente para não comprometer os
resultados. Uma execução mal feita não
permitirá que a solução escolhida seja aplicada corretamente e consequentemente
gerará desperdício de recursos.
Como podemos
observar diariamente e dentro do escopo do discutido acima, um dos sérios
problemas do Estado Brasileiro, por causa dos seus governantes e dos políticos
que elegemos, em função da sua mediocridade, desfaçatez e desonestidade, é que
os recursos a disposição deles e que são retirados da sociedade na forma de
taxas e impostos são consistente e sistematicamente desperdiçados ao se definir
o problema de forma errada, ao diagnosticar confundindo sintomas com causas, ao
planejar sem definir corretamente as alternativas e ao executar sem definir
metas nem controlar adequadamente a execução de acordo com tais metas.
Na vida real,
quando os políticos propõem soluções para a segurança pública, a educação, a
saúde pública ou qualquer outro problema, misturam todos estes conceitos. São
discutidas possíveis soluções sem ter definido previamente qual é o problema
(por exemplo, dizer que a segurança pública é um problema não é suficiente, é
necessário definir quais os aspectos da segurança pública que são o problema)
nem especificar um diagnóstico (quais as verdadeiras causas do problema). Poucos
investem esforços em descrever como conseguirão executar a solução proposta. As
propostas de solução então ficam vazias.
Nas críticas
ao que já foi feito pelos adversários, não se fala sobre onde é que se errou,
se na identificação do problema, se no diagnóstico feito, se na solução
escolhida ou ainda se a execução se deu de forma errada. Misturam-se tudo e
todo, muitas vezes de forma proposital.
Um dos
motivos que nos leva a adotarmos o sistema de partidos políticos é que estes
deveriam definir programas de governo onde estas questões sejam desenvolvidas e
propostas de forma pública. Seus filiados e candidatos deveriam comprometer-se
com tais programas e a população deveria acompanhar se de fato há empenho em
executar tal programa. A realidade é que a maior parte dos programas de governo
dos partidos limita-se a uma declaração de intenções do que a desenvolver
respostas detalhadas aos grandes problemas nacionais. Também é verdade que a
população, desinteressada, não controla nem exige esta coerência dos políticos.
Não basta
querer resolver os problemas. É necessário também ter competência para
identificar, diagnosticar, propor soluções viáveis e implantar tais soluções,
prestando contas dos resultados obtidos.
Diante de um
eventual candidato a um cargo legislativo ou do executivo, o eleitor deveria
poder fazer perguntas que lhe permitam identificar se estão de acordo com a
análise e a proposta do candidato para determinado problema, qual o seu
diagnóstico, que soluções propõe e como as implantará. Como o eleitor não tem
oportunidade de questionar isto diretamente caberia aos jornalistas e à mídia
em geral fazer estes questionamentos. O que verificamos é que também aqui
comprovamos a mediocridade e eventualmente até o conluio destes profissionais
com políticos desonestos.
Cabe
a cada um de nós tomarmos a decisão de se deixaremos sermos enganados por
propostas vazias o se tentaremos, empregando os meios a seu alcance, pesquisar
profundamente tentando identificar tais detalhes, questionando quando possível
e tomado uma decisão eleitoral consciente.