sábado, 25 de agosto de 2018

Um pouco sobre política e o voto

Um pouco sobre política e o voto
Por Cristian Welsh Miguens – 24 de agosto de 2018
Há diversas formas de interpretar o que seja “a política”.
Tem-se, por exemplo, “a política de qualidade da empresa”. Neste caso, política significa uma série de regras e orientações que tem por objetivo facilitar o trabalho de todos os funcionários, especialmente quando eles devem tomar decisões, pois eles sabem que tais decisões devem seguir as regras e orientações da tal “política de qualidade”. Chamo a atenção para o termo decisão. Pode-se inferir que se trata de “grandes decisões”. Neste caso estamos falando também de pequenas decisões, do tipo “como comprimento um cliente que acabou de entrar na loja?” ou “como embrulho uma mercadoria que um cliente acabou de comprar?”. Todas as nossas ações no trabalho envolvem decisões constantes e estas são orientadas pelas tais “políticas”
O termo política também é usado no sentido de que “nós devemos ser políticos ao falar com ... ”. Neste caso, política significa ser cuidadoso na escolha de palavras e no que é que eu vou dizer a determinadas pessoas. Aqui há muita confusão na interpretação. Toda vez que se conversa com alguém ou com um grupo de pessoas, se deseja transmitir uma mensagem. Tomar cuidado na escolha das palavras para ser corretamente compreendido evitando ofender ou de alguma forma dar margem a interpretações diferentes daquela que de fato se deseja transmitir é totalmente diferente de mentir ou enganar para obter um determinado resultado. Isto último é a deturpação da política. Lamentavelmente esta última forma de interpretar “nós devemos ser políticos ao falar com ..... ”  é a interpretação que mais se percebe empregada pelas pessoas.
Já “a política” é o ambiente e as relações que surgem nesse ambiente, que envolvem os representantes que nos governam. Em geral, nas democracias, estamos falando de pessoas dos poderes Executivo (de executar, fazer as coisas acontecer) e Legislativo (legislar, criar leis e regras que orientem o comportamento das pessoas em sociedade), ou seja, pessoas eleitas por meio do voto com o objetivo de agirem em representação das pessoas (o povo). Tais pessoas são chamadas de políticos.
Os políticos, por atuar em representação do povo, deveriam estar dispostos a sempre agir conforme alguns critérios básicos:
a)     Como as suas ações geram normas e “políticas” que impactam e interferem na ação e nas decisões que as pessoas tomam individualmente, as soluções desenvolvidas pelos políticos deveriam interferir o mínimo possível na vida das pessoas. Afinal de contas, ninguém gosta que outros tomem decisões por eles ou lhes sejam impostas restrições ao exercício da própria liberdade. Invadir a ceara da decisão individual o mínimo possível deveria ser preocupação permanente dos políticos;
b)    Deveriam sempre desenvolver soluções “gerais”, sem privilegiar ninguém em particular;
c)     Nunca devem por os próprios interesses pessoais à frente dos interesses dos seus representados;
d)    O trabalho exige negociação permanente. Negociar significa reconhecer que nem todos concordam comigo, que nem todos tem o mesmo objetivo e que, portanto, devo estar preparado a ceder algo para poder chegar a um acordo. O respeito mútuo é indispensável.
Em uma democracia não há soluções possíveis sem política e sem políticos. Por mais desacreditados que os nossos políticos estejam, deve-se reconhecer que, se eles não atendem às nossas expectativas, a culpa é nossa em primeiro lugar e somente depois é deles. Afinal de contas nós os escolhemos.
O mais inacreditável de toda esta história é que distorcemos em nossas mentes o que o político deveria ser. Exige-se dele que “nos beneficie” e a partir disso pretendemos que ele consiga alguns “privilégios” para nós.
Como é que um político deveria raciocinar ao legislar ou ao administrar algum órgão do executivo? Este é o tema central deste artigo na medida em que sugere um mecanismo de avaliar o discurso dos diversos políticos em épocas de eleição.
Qualquer coisa que exija que seja desenvolvida uma solução, chamaremos daqui em diante, de “problema”. Então, a primeira coisa a ser feita é definir corretamente o problema. A maior dificuldade aqui é não confundir “sintomas” com a verdadeira causa. Um problema se manifesta gerando sintomas. Resolver apenas o sintoma nem sempre resolve o problema. Um problema mal definido necessariamente gerará soluções erradas e consequentemente desperdício de recursos.
Com o problema bem definido, deve-se então empenhar esforços para fazer um diagnóstico. Um diagnóstico é o resultado de uma pesquisa e a respectiva análise das possíveis causas do problema. Fazer um bom diagnóstico requer ter conhecimentos e competências específicas com a questão que se deseja diagnosticar. Novamente, fazer um diagnóstico errado gerará soluções erradas e consequentemente desperdício de recursos.
Com o diagnóstico em mãos deve-se começar a procurar a solução do problema. Nem sempre será possível propor a solução ideal, pois esta pode não ser a melhor solução para as condições particulares do problema. Pode faltar dinheiro, domínio da tecnologia, não ter a disposição pessoas devidamente preparadas ou então diversos outros motivos que limitem o tipo de solução a ser adotada. Uma solução equivocada gerará soluções erradas e consequentemente desperdício de recursos.
Com a solução escolhida em mãos só está resolvido “o que” deve ser feito. Falta definir “como” será aplicada a solução escolhida. O “como“ envolve planejar. Quais serão as etapas, quem fará cada etapa, quantas pessoas serão necessárias para executar cada etapa, qual a qualificação dessas pessoas, como se fará a comunicação do que deve ser feito, que outros recursos serão necessários em cada etapa, quanto custará e assim por diante. Também se deve definir uma meta e uma ou várias formas de medir se a execução da solução está acontecendo de acordo com o planejado e se a meta está sendo atingida. Uma solução com um mal planejamento gerará soluções erradas e consequentemente desperdício de recursos.
Agora que já se possui “o que” e “como”, deve-se executar. A execução envolve controlar se a solução escolhida está sendo executada conforme planejado e se os resultados que se esperam em cada etapa da implantação de fato estão acontecendo. A avaliação dos resultados exige que se tomem decisões e correções de rumo (ações corretivas) e para tanto deve ter pessoas qualificadas e com a autoridade suficiente para tomar essas decisões rapidamente para não comprometer os resultados. Uma execução mal feita não permitirá que a solução escolhida seja aplicada corretamente e consequentemente gerará desperdício de recursos.
Como podemos observar diariamente e dentro do escopo do discutido acima, um dos sérios problemas do Estado Brasileiro, por causa dos seus governantes e dos políticos que elegemos, em função da sua mediocridade, desfaçatez e desonestidade, é que os recursos a disposição deles e que são retirados da sociedade na forma de taxas e impostos são consistente e sistematicamente desperdiçados ao se definir o problema de forma errada, ao diagnosticar confundindo sintomas com causas, ao planejar sem definir corretamente as alternativas e ao executar sem definir metas nem controlar adequadamente a execução de acordo com tais metas.
Na vida real, quando os políticos propõem soluções para a segurança pública, a educação, a saúde pública ou qualquer outro problema, misturam todos estes conceitos. São discutidas possíveis soluções sem ter definido previamente qual é o problema (por exemplo, dizer que a segurança pública é um problema não é suficiente, é necessário definir quais os aspectos da segurança pública que são o problema) nem especificar um diagnóstico (quais as verdadeiras causas do problema). Poucos investem esforços em descrever como conseguirão executar a solução proposta. As propostas de solução então ficam vazias.
Nas críticas ao que já foi feito pelos adversários, não se fala sobre onde é que se errou, se na identificação do problema, se no diagnóstico feito, se na solução escolhida ou ainda se a execução se deu de forma errada. Misturam-se tudo e todo, muitas vezes de forma proposital.
Um dos motivos que nos leva a adotarmos o sistema de partidos políticos é que estes deveriam definir programas de governo onde estas questões sejam desenvolvidas e propostas de forma pública. Seus filiados e candidatos deveriam comprometer-se com tais programas e a população deveria acompanhar se de fato há empenho em executar tal programa. A realidade é que a maior parte dos programas de governo dos partidos limita-se a uma declaração de intenções do que a desenvolver respostas detalhadas aos grandes problemas nacionais. Também é verdade que a população, desinteressada, não controla nem exige esta coerência dos políticos.
Não basta querer resolver os problemas. É necessário também ter competência para identificar, diagnosticar, propor soluções viáveis e implantar tais soluções, prestando contas dos resultados obtidos.
Diante de um eventual candidato a um cargo legislativo ou do executivo, o eleitor deveria poder fazer perguntas que lhe permitam identificar se estão de acordo com a análise e a proposta do candidato para determinado problema, qual o seu diagnóstico, que soluções propõe e como as implantará. Como o eleitor não tem oportunidade de questionar isto diretamente caberia aos jornalistas e à mídia em geral fazer estes questionamentos. O que verificamos é que também aqui comprovamos a mediocridade e eventualmente até o conluio destes profissionais com políticos desonestos.
Cabe a cada um de nós tomarmos a decisão de se deixaremos sermos enganados por propostas vazias o se tentaremos, empregando os meios a seu alcance, pesquisar profundamente tentando identificar tais detalhes, questionando quando possível e tomado uma decisão eleitoral consciente.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Reflexões Sobre o Emprego


Reflexões sobre o emprego
Por: Cristian Welsh Miguens
15/08/2018

Há muita gente apreensiva e gerando um clima de incerteza generalizado por causa da destruição de empregos. Há motivos para tanto alvoroço?
O assunto é especialmente sensível, pois se refere aos mecanismos de sobrevivência das famílias. Por esse mesmo motivo, faz parte do discurso político de demagogos e populistas. Vamos tentar então fugir do lugar comum.
Em primeiro lugar, não sei se repararam, mas não está sendo usada a palavra “redução” ou “falta” de empregos, mas o termo “destruição”. Embora o efeito seja similar, falta de emprego para as pessoas ter renda para sustentar a família, as pessoas estão acostumadas aos ciclos de aumento e redução de empregos acompanhando a evolução do desempenho da economia do país. Já a nova forma de se referir à falta de emprego, a “destruição” de empregos, remete os nossos cérebros a imaginar que uma vez que determinados empregos foram destruídos, eles não retornarão mais. Estamos mesmo diante desta situação?
Sem dúvida que um dos motivos do desemprego no Brasil é a baixa atividade econômica. Não passamos por uma recessão do tamanho da Brasileira (em torno de 10% de redução acumulada de 2013 para cá) sem pagar o preço em empregos. Se fossemos uma economia mais aberta e sem um “salário mínimo”, que distorce as relações de emprego, o desemprego causado pela queda de atividade econômica poderia ter um impacto bem menor, com o ajuste então acontecendo por meio da redução do valor médio do salário.
Também devemos levar em consideração que outra parcela do desemprego total é uma taxa estrutural, reflexo da rotatividade de empregos e do tempo que demora uma pessoa que perde o emprego para iniciar-se em outro. Essa taxa para o Brasil oscila entre 4 e 5%.
A realidade Brasileira indica também que a maior parte da taxa de desemprego, que gira em torno de 13%, se deve a estes dois motivos. Entretanto, diversos meios de comunicação e imprensa abordam o tema dando a entender que a “destruição” de empregos se deve ao aumento do uso da tecnologia, à robotização, ao uso da Inteligência Artificial (AI), enfim, à tecnologia aplicada que estaria “destruindo” empregos enquanto esta situação estaria demandando mão-de-obra mais qualificada, da qual não dispomos, projetando cenários de catástrofe para o futuro próximo.
A realidade Brasileira também indica que estamos longe deste cenário. O cenário que devemos projetar é de negócios com baixa produtividade e baixa competitividade. Isto sim. O grau de informatização e de automação, tanto na indústria como no setor de serviços, é tão baixo que o uso de tecnologia ainda não trará reflexos no desemprego. O baixo grau de concorrência da nossa economia, devido à proteção e intervenção do Estado, não propicia o uso intensivo da TI para melhorar a competitividade. Investimentos nesta área são vistos pelos empresários como “despesas” que devem ser evitadas em momento de crise e não como investimentos a serem realizados procurando melhorar a produtividade e a competitividade.
Mesmo assim, me chamou a atenção a divulgação de pesquisa recente feita pelo SPC Brasil e a CNDC, revelando que quase dois terços da população Brasileira está recorrendo a bicos para poder sobreviver. Soma-se a este tipo de pesquisa outras que apontam que o aumento de empreendimentos novos (startups) se explicam pela necessidade dos empreendedores de procurar novas fontes de renda em função das dificuldades de acharem novas oportunidades de emprego. Estes dados podem sim ser indicativos de uma mudança, já esperada, na natureza e na forma das relações de emprego.
A terceirização, o emprego temporário, e outras formas de relacionamento trabalhista, já contempladas na Reforma Trabalhista em vigor, são mecanismos sob os quais está desenvolvendo-se uma mecânica de contratação e execução de atividades comerciais promovida em grande medida pela utilização de smartfones, internet e APPs. A lógica de contratação em que um salário era pago em troca do tempo disponibilizado pelo empregado ao empregador, regulamentado em lei (44 horas semanais), dá lugar à contratação por resultados por tempo determinado (trabalho por demanda). Esta é uma mudança e tanto que, se e quando difundida de forma profunda e ampla na sociedade, trará enormes resultados e benefícios, com melhorias de produtividade acentuadas. A meritocracia está encontrando uma forma de fugir da tutela do Estado e, sem amarras, então produzir e ser remunerado de acordo com as próprias competências e de forma proporcional aos resultados obtidos.
É claro que as pessoas que desejam preservar o “status quo” (governo, sindicatos, empregados públicos e os medíocres de plantão) vão espernear e tergiversar com argumentos cuja única finalidade é a preservação de privilégios a determinadas “castas” contempladas pelos donos do poder.
Há ainda mais um fator a destacar com relação às opiniões referentes à destruição de empregos. Toda vez que se fala em aumento de produtividade surge a frase, ou parecida, que “ ... há um custo social decorrente, a perda de empregos”. Estes analistas “esquecem” que o aumento de atividade econômica promovida pelo aumento de produtividade e o desenvolvimento, emprego e comercialização da tecnologia aplicada em cada caso, criam novos empregos, no comércio, na indústria e nas áreas de prestação de serviços, que nunca são contabilizados nessas horas.
As pesquisas sobre o emprego e os diagnósticos decorrentes da análise de tais pesquisas não levam em consideração ainda estes fenômenos, portanto, não sabemos até que ponto este novo “ambiente trabalhista” esteja alastrando-se no mercado. Aos estrategistas, tanto aqueles ligados ao poder público quanto aqueles que decidem os rumos dos negócios no setor privado, cabe agora se debruçar em dados disponíveis para levar ou não em consideração esta nova hipótese, sob o risco de errarem calamitosamente as suas projeções baseadas em premissas relacionadas com o emprego.

Sócio Diretor da IRON Consultoria