Por: Cristian Welsh Miguens, CMC
Os métodos e técnicas empregados na
análise e solução de problemas conforme a metodologia que propomos na IRON
Consultoria – resumidamente o PDCA – além de ser um processo de planejamento e
replanejamento inserido num contexto de melhoria contínua, é um processo de
aprendizado. Ao abordar as questões que envolvem a análise e o processo de
decisão no contexto da metodologia de solução de problemas, inicia-se a imersão
num novo ambiente ou paradigma do qual até o momento, nos artigos publicados
recentemente, pouco foi abordado: o processo de aprendizado de qualquer ser
humano.
Análise
Invariavelmente, ao tentar compreender
e/ou explicar o significado de conceitos relevantes para a gestão, recorremos
ao conceito de processo. Análise, então, é um processo mental que exige e se
complementa com algumas atitudes comportamentais específicas. Envolve a
identificação e a subdivisão lógica do problema sob análise em partes,
descobrir a seguir, para cada uma delas, por meio de obtenção de dados e seu
processamento usando técnicas e metodologias específicas para gerar
informações, qual é a sua influência, impacto ou contribuição isolada na
geração do fenômeno definido como problema para, posteriormente juntar todas as
partes estudadas num novo conjunto lógico que consiga explicar as relações de
causa e efeito.
O resultado da análise não é a solução
em si, é apenas uma hipótese que precisa ser testada. Este “teste” constitui-se
na execução da solução proposta, que requer acompanhamento dos resultados que
confirmarão ou não a hipótese levantada.
A análise pode revelar mais de uma
alternativa de solução. De fato, isto pode causar incerteza, que existe tanto
quanto por causa das soluções propostas serem desconhecidas até então quanto
pelo número de alternativas geradas. Enquanto não se testa se as hipóteses
levantadas são verdadeiras ou falsas, as diversas alternativas possíveis exigem
uma tomada de decisão, no mínimo, quanto a qual das alternativas propostas será
testada primeiro. Por trás desta realidade desenvolve-se um outro conceito, que
abordaremos em outro artigo, que é o conceito de risco.
Decisão
A tomada de decisão é a atitude que nos
move para a ação. Qualquer ação que se venha a executar é fruto, de alguma
maneira, de uma análise prévia. Feita de forma superficial ou de forma
profunda, feita de forma intuitiva ou de forma científica (empregando a
metodologia científica que se baseia em dados e informações), o fato é que toda
ação é decorrente de uma decisão fruto de um processo de análise prévio.
Algumas questões relevantes precisam ser
apontadas.
a)
Toda
decisão é de uma pessoa específica. As empresas não decidem, alguém com poder
suficiente dentro dela decide. As máquinas não decidem, alguém as programou
para decidir. Os governos não decidem, alguém com poder suficiente dentro dela
decide. Então toda decisão é fruto da ação humana.
b)
Costumo
afirmar que a maior parte das nossas decisões são tomadas com “a boca do
estômago” antes do que com a “cabeça”. Ou seja, as emoções jogam um papel que
não pode nem deve ser subestimado ao estudar o processo de tomada de decisão.
Podemos afirmar, entretanto que, tomar decisões pura e exclusivamente já seja
com a emoção ou, no outro extremo, apenas com a razão, não garante melhores
decisões nem é uma situação que faça parte da realidade. Toda decisão tem um
componente emocional e outro racional sempre.
c)
O
processo de decisão é um ato voluntário. Toda pessoa pode decidir não decidir.
d)
Não
decidir, tido como ato voluntário racional, é também uma decisão e pode ser tão
eficiente e eficaz, em determinadas circunstâncias, quanto a de tomar uma
decisão a favor de uma ação específica. Entretanto, em determinadas
circunstâncias, pode ser apenas parte de um processo de omissão gerado por negação.
Difícil, para o observador externo, é distinguir uma da outra.
e)
Neste
contexto então, não existe a explicação lógica, usada com alguma frequência, em
termos de “não tinha outra alternativa”. Sempre há ao menos um par de
alternativas: decidir ou não decidir. Nesses casos a frase pode ser melhor
interpretada como sendo que a alternativa escolhida era a que apresentava
melhores condições para conviver posteriormente com o resultado desta tomada de
decisão ou, vista desde a outra ponta da tomada de decisão, a pessoa não estava
disposta a assumir as consequências que se produziriam com a decisão
alternativa. Em tudo caso, toda decisão produz efeitos futuros com os quais
devemos estar dispostos a conviver e a assumirmos que foi o resultado do
exercício voluntário de uma tomada de decisão pessoal e livre.
Aprendizado
Aprender é uma palavra que no contexto
deste artigo precisa ser definida. Aprender é “ .. passar a ter conhecimento, cognição, sobre; instruir-se
(por ex.: aprender inglês); associado à ação humana“. Aprendizagem é o processo
que permite que se aprenda.
Dado o
grau de desconhecimento que ainda temos sobre o funcionamento do cérebro, não é
difícil compreender por que existem tantas teorias sobre o processo de
aprendizagem. Mesmo assim, a Taxonomia de Bloom é a que escolhemos para
explicar este processo. Há muita literatura a respeito deste tema e da
Taxonomia de Bloom que sugiro que sejam consultados. Uma introdução rápida ao
conceito pode achar-se em https://pt.wikipedia.org/wiki/Taxonomia_dos_objetivos_educacionais
.
Trata-se de uma é uma estrutura de
organização hierárquica de objetivos educacionais que divide as possibilidades
de aprendizagem em três grandes domínios: o cognitivo, abrangendo a
aprendizagem intelectual; o afetivo, abrangendo os aspectos de
sensibilização e gradação de valores, e; o psicomotor, abrangendo as
habilidades de execução de tarefas que envolvem o aparelho motor.
Cada um destes domínios tem diversos
níveis de profundidade de aprendizado. Por isso a classificação de Bloom é
denominada hierarquia: cada nível é mais complexo e mais específico que o
anterior. O terceiro domínio não foi terminado, e apenas o primeiro foi
implementado em sua totalidade. As figuras a seguir ilustram o processo sugerido.
Figura 1: Categorização proposta por Anderson, Krathwohl e Airasian em 2001
Figura 2: Taxonomia dos objetivos educacionais de Bloom - Wikipedia
Este conceito, que merece uma discussão e um aprofundamento cognitivo que supera os objetivos deste artigo, ilustra claramente que o processo de tomada de decisão na busca de uma solução a um problema constitui-se necessariamente em um processo de aprendizado. Uma boa solução, especialmente se a procura for por uma solução criativa e inovadora, só poderá ser obtida ao se atingir a sexta e última etapa deste processo de aprendizagem.
Este processo também ilustra por que que
jamais deixamos de aprender e que, quanto mais aprendemos, maior é a
consciência do pouco que sabemos. O oposto disto, confirmado nas experiencias
diárias, é a arrogância de quem acredita já ter aprendido tudo o que precisa,
fruto da falta de consciência deste processo todo, não só do processo de
aprendizagem, mas, do processo que nos leva à tomada de decisão.
O fato de sabermos que sempre saberemos
muito pouco, mesmo sendo considerados especialistas em determinados temas, não
pode nos levar à paralisia e à omissão. Somos obrigados a tomar decisões todo
dia e a toda hora. Adquirir consciência das limitações não se constitui numa
fraqueza, muito pelo contrário, deveria ser uma virtude, um fator de sucesso.